sábado, fevereiro 27, 2010

Que é Oração?

«Uma noite, o irmão Bruno viu a sua oração interrompida pelo cantar de uma rã.
Mas, ao ver que todos os seus esforços por ignorar o som eram inúteis, aproximou-se da janela e gritou: “Silêncio. Estou a rezar.”
Como o irmão Bruno era um santo, a sua ordem foi obedecida de imediato: todo o ser vivo calou a sua voz, para criar o silêncio que favorecesse a sua oração.
Porém, um outro ruído veio então perturbar o irmão Bruno: uma voz que dizia: “Talvez a Deus agrade tanto o cantar dessa rã como a recitação dos teus salmos…” “O que pode haver no cantar dessa rã que seja agradável aos ouvidos de Deus?” pergunta o irmão Bruno. A voz continuou: “Já te perguntaste o porquê de Deus ter criado esse som?”
Bruno decidiu averiguar o porquê. Aproximou-se de novo da janela e ordenou: “Canta!”
E o cantar ritmado da rã voltou a encher o ar, com o acompanhamento de todas as rãs do lugar. E, quando Bruno prestou atenção ao som, este deixou de o incomodar, porque descobriu que, se não lhe resistisse, o cantar das rãs servia para enriquecer o silêncio da noite.
Uma vez feita esta descoberta, o coração do irmão Bruno sentiu-se em harmonia com o universo e, pela primeira vez na vida, compreendeu o que significa orar.»

Anthony de Mello – La oración de la Rana

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

“Permanecei em mim”

Quaresma - Tempo de Renascer - um dia na Caminhada - 6.º

É tempo de:

Deserto... fazer silêncio




Escutar e meditar a Palavra

«Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.»
(Jo 15, 1-8)



Procurar-se na solidão

- Que significa “permanecei em mim”? E eu, permaneço em Cristo? Com que atitudes: de uma forma passiva ou de uma forma comprometida?...
- Jesus diz: “Sem mim nada podei fazer”. Tenho consciência disto? Deixo que Deus tenha uma presença activa e decisiva nas minhas opções, nas minhas palavras, nos meus gestos?...
- “Dar fruto”… Este é o desafio que Cristo nos lança neste trecho do Evangelho de S. João. Olhando a minha vida de todos os dias posso afirmar que ela produz “frutos que vêm de Deus”?...


É tempo de procura de água

Cada um de nós é desafiado a permanecer unido a Jesus e dar fruto.
Nós somos os ramos da videira que é Cristo Ressuscitado; só unidos a esta videira, recebendo da sua seiva, alimentando-nos desse Corpo e desse Sangue, podemos dar frutos de unidade, comunhão e paz, na Igreja e fora dela.
“permanecei em mim, pois sem mim nada podeis fazer” - significa, em primeiro lugar, que todos e cada um de nós temos de tomar consciência que Deus nos chama a tomar parte no Seu projecto de Amor. Permanecer em Jesus produz, não um fruto qualquer, mas o fruto do amor aos outros, em que se superam desentendimentos, divisões, diferenças, e se vive um relacionamento novo entre nós. Permanecer em Jesus significa produzir frutos de vida.


Encontrar oásis no deserto

“permanecei em mim” - permanecer em Cristo é atitude de quem faz a opção pelo essencial.

Somos os ramos, muitos ramos, na Videira que é Jesus, cada um com a mesma importância que os demais. Bebemos da mesma seiva. Somos uma comunidade de iguais. Somos comunhão.

“sem mim nada podeis fazer” - não pensemos que somos auto-suficientes; não nos podemos bastar a nós próprios. Sem Jesus somos ramos não irrigados, secos, infiéis, egoístas, que não podem dar frutos porque se separaram da cepa; somos apenas deserto... sem um oásis.
Jesus é que faz/é o oásis no nosso deserto; é a água que nos sacia; o alimento que nos permite frutificar.

Para que sejamos um ramo que frutifica, um ramo que está plenamente unido à videira, o grande desafio é o da oração. Sem oração não há comunhão com Deus nem com os irmãos. Sem oração o nosso testemunho torna-se vazio… falaremos muito sobre Deus, mas como falamos pouco com Ele, tudo o que dissermos e fizermos será sempre superficial.


Continuemos a nossa caminhada quaresmal, amanhã com a reflexão da Dulce no Degrau de Silêncio, na certeza de que só quem permanece em Cristo é que pode produzir bons e abundantes frutos.


Textos de apoio:
"Somos Comunhão" in: A Alegria de Crer, SNEC;
“Permanecei em mim… sem mim nada podeis fazer”

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Quaresma

Tempo de Renascer.



Tempo de fazer silêncio... e escutar a Palavra;
procurar-se na solidão.


É tempo de procura de água;
de encontrar oásis no deserto.



[É altura para reflectir diariamente em Caminhada:


Texto de hoje: José António

Seguem-se: Utília; Canela; Joaquim; Gisele; Fa menor; Dulce; Teresa; Malu.]

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Contradições

No Sermão da Montanha (Mt 5, 3-12) Jesus ensina-nos as Bem-aventuranças: 
 * Bem aventurados (felizes) os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 
* Bem aventurados os que choram, porque serão consolados. 
* Bem aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 
* Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 
* Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 
* Bem aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 
* Bem aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 
* Bem aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. 
* Bem aventurados sereis, quando vos insultarem, vos perseguirem, e disserem, falsamente, toda a espécie de mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai porque será grande no Céu a vossa recompensa. 

  A sociedade ocidental deste princípio de século XXI também nos ensina bem-aventuranças: 
 » Felizes os que promovem a guerra e a discórdia, porque fazem fortuna com a desgraça alheia. 
» Felizes os que insultam, caluniam e sobre o nome dos outros lançam lama, porque jamais serão responsabilizados. 
» Felizes os ricos, porque nada lhes falta. 
» Felizes os que roubam, fogem aos impostos e não declaram os seus rendimentos, porque jamais serão punidos. 
» Felizes os maldosos e os mentirosos, porque semeiam a confusão e escapam sempre. 
» Felizes os que comem e bebem em excesso, porque aproveitam a vida. 
» Felizes os que perseguem e maltratam, porque são donos e senhores do mundo. 
» Felizes os que exploram, porque alcançam os seus objectivos. 
» Felizes os agressivos e os brigões, porque a eles ninguém incomoda. 
» Felizes os que possuem um título académico, porque todos os respeitam. 
» Felizes os que são importantes e famosos, porque todos os admiram. 
» Felizes os que matam, porque sabem defender-se. 
» Felizes os que seguem todos estes preceitos de modo exemplar, porque revelam um profundo desrespeito pela vida.

No Evangelho de Lc 6,17.20-26 Jesus continua:
- Ai de vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome. 
- Ai de vós, que rides agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar. 
- Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem.


segunda-feira, fevereiro 08, 2010

A Parábola dos Sete Vimes

“Era uma vez um pai que tinha sete filhos. Quando estava para morrer, chamou-os todos sete, e disse-lhes assim:
- Filhos, já sei que não posso durar muito; mas antes de morrer, quero que cada um de vós me vá buscar um vime seco e mo traga aqui.
- Eu também? – Perguntou o mais pequeno, que tinha só quatro anos. O mais velho tinha vinte e cinco e era um rapaz muito reforçado e o mais valente da freguesia.
- Tu também - respondeu o pai ao mais pequeno.
Saíram os sete; e daí a pouco tornaram a voltar, trazendo cada um seu vime seco.

O pai pegou no vime que trouxe o filho mais velho e entregou-o ao mais novinho, dizendo-lhe:
- Parte esse vime.
O pequeno partiu o vime, e não lhe custou nada a partir.
Depois, o pai entregou outro ao mesmo filho mais novo e disse-lhe:
- Agora parte também esse..
O pequeno partiu-o; e partiu, um a um, todos os outros, que o pai lhe foi entregando, e não lhe custou nada parti-los todos. Partindo o último, o pai disse outra vez aos filhos:
- Agora ide procurar outro vime e trazei-mo.

Os filhos tornaram a sair e daí a pouco estavam outra vez ao pé do pai, cada um com o seu vime.
- Agora dai-mos cá - disse o pai.
E dos vimes todos fez um feixe, atando-os com um vincelho.
E, voltando-se para o filho mais velho, disse-lhe assim:
- Toma este feixe! Parte-o!
O filho empregou quanta força tinha, mas não foi capaz de partir o feixe.
- Não podes? - perguntou ele ao filho.
- Não, meu pai, não posso.
- E algum de vós é capaz de o partir? Experimentai.

Não foi nenhum capaz de o partir, nem dois juntos, nem três, nem todos juntos.
O pai disse-lhes então:
- Meus filhos, o mais pequenino de vós partiu, sem lhe custar nada, todos os vimes, enquanto os partiu um por um; e o mais velho de vós não pode parti-los todos juntos; nem vós, todos juntos, fostes capazes de partir o feixe. Pois bem, lembrai-vos disto e do que vos vou dizer: enquanto vós todos estiverdes unidos, como irmãos que sois, ninguém zombará de vós, nem vos fará mal, ou vencerá. Mas logo que vos separeis, ou reine entre vós a desunião, facilmente sereis vencidos.
Acabou de dizer isto e morreu – e os filhos foram muito felizes, porque viveram sempre em boa irmandade ajudando-se sempre uns aos outros; e como não houve forças que os desunissem, também nunca houve forças que os vencessem”.
(Trindade Coelho. In: Os meus amores)

O homem é um animal social que só se realiza como pessoa na relação e convivência com os outros. Convivência essa nem sempre fácil e nem pacífica, em que muitos são colocados a um canto e outros preferem isolar-se vivendo só para si e por si.

Esta parábola aponta-nos o caminho a seguir.
Só unidos, em permanente dar as mãos uns aos outros, vivemos verdadeiramente!

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Papoila


Imagem: Couillaud

Há 22 anos nasceu uma papoila no meu canteiro
que veio trazer mais cor a todo o jardim.

Parabéns minha Papoila tão querida!

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